quarta-feira, março 11, 2009

FÓRUM INTER-RELIGIOSO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO 2009

Na última segunda-feira, dia 9 de março, tive o privilégio de proferir uma palestra para alunos, professores e interessados, sobre presbiterianismo, na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Esta programação é uma iniciativa do Mestrado em Ciências da Religião e pelo curso de Teologia da Unicap, e foi realizado no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH).Abaixo estou disponibilizando o artigo: Fórum Inter-religioso da Católica inicia programação 2009, escrito por Tiago Cisneiro e que se encontra disponível no site: www.unicap.br/assecom2/boletim/2009/marco/boletim_10.03.2009.html. Em breve estará disponível no youtube um documentário com cenas de cultos e entrevista sobre o presbiterianismo, gravado no SPN sobre “Presbiterianismo”. Aguarde! Eis o texto, na íntegra, do boletim da Unicap:
O Fórum Inter-religioso da Católica foi retomado nesta segunda-feira (9), das 17h às 18h30, com a exposição “Presbiterianos: um outro caminho”. O evento, organizado pelo Mestrado em Ciências da Religião e pelo curso de Teologia da Unicap, foi realizado no auditório do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH ).

Na ocasião, foi exibido um breve documentário, produzido pela Assecom, com cenas de cultos e entrevistas sobre as principais características da Igreja Presbiteriana no Brasil. Em seguida, o professor Gilbraz Aragão, coordenador do Mestrado em Ciências da Religião, deu as boas-vindas ao público e falou sobre o terceiro ano do Fórum Inter-religioso. “A ideia é silenciar nossa confissão de fé e buscar caminhos alternativos para os tempos difíceis em que vivemos”, explicou. Por fim, anunciou a presença do Reverendo Marcos André, convidado para esclarecer os princípios do presbiterianismo.

Reverendo Marcos André tratou das particularidades do sistema presbiteriano, que se baseia na soberania de Deus”. Desse postulado inicial, são desenvolvidas todas as crenças e preceitos da religião. Confira a seguir os quatros principais pontos consequentes da afirmação no Deus soberano:
_ Deus está no controle absoluto de tudo.
_ O controle é exercido, exclusivamente, por Deus.
_ O espírito de Deus governa todas as coisas visíveis e invisíveis.
_ Tudo acontece com um propósito definido.
Os pensamentos presbiterianos são apoiados nas Escrituras Sagradas (Bíblia). “O princípio central da soberania de Deus está na palavra de Deus”, definiu o Reverendo. A Igreja Presbiteriana defende o livre exame da Bíblia, a partir do seguinte silogismo: se Deus é o senhor da consciência e se cada homem tem que prestar contas só a Deus, logo, é cabível o direito de interpretar as Escrituras livremente.
O Reverendo Marcos explicou, também, que o sistema da Igreja possui quatro colunas: Teologia, Dever, Culto e Governo. Durante a explicação, ele detalhou as características e os significados dessas esferas.
“A teologia presbiteriana é fundamental, por que é a exposição do que devemos crer acerca de Deus, e calvinista. Apesar de sua origem estar na palavra de Deus, nós seguimos a interpretação de João Calvino”, declarou o Reverendo. Em seguida, ele diferenciou as três dimensões de aceitação: aquelas que são comuns a todos os cristãos, as que norteiam todos os protestantes e as que servem a todos os calvinistas. Sobre a linha do calvinismo, ele destacou os cinco pontos fundamentais, criados por seguidores de Calvino, após a sua morte: Depravação total (o homem não age contra sua natureza; depois de ter pecado, ele não deixa de pecar; não há, portanto, um livre arbítrio); Eleição incondicional (Deus escolhe, previamente, o destino de cada pessoa, para a
salvação ou não); Expiação limitada (Jesus morreu, apenas, pelos que foram eleitos de Deus antes da criação do mundo); Graça irresistível (a graça – Novo Nascimento – é exclusiva e irrecusável para os eleitos de Deus); e Perseverança dos Santos (quem é do senhor será, sempre, do senhor). Dentro do campo da Teologia, foram apresentadas, ainda, as ideias com referência à salvação divina.

Sobre o Dever, o Reverendo destacou a existência de um padrão definido, cujos princípios são, claramente, exibidos nas Escrituras. Explicou que, para os presbiterianos, existe uma “livre agência” do homem, mas não um “livre arbítrio”, por sua incapacidade de agir contra a própria natureza. Em seguida, resumiu as noções da Igreja sobre a lei moral de Deus, o pecado, a fé, as regras de conduta, a ortopraxia e o chamado para as boas obras, entre outros pontos do comportamento humano. O Reverendo detalhou, também, a ideia de que a Igreja e o Estado são instituições divinas. “Os presbiterianos começaram na Escócia, onde, até hoje, existe uma relação entre essas instâncias. Acreditamos que ambas são frutos do desejo de Deus, mas defendemos que deve haver a separação dos poderes”, esclareceu. A partir dêsse princípio, concluiu que é necessária a obediência às autoridades civis, que seriam posições concedidas por Deus.
Quanto ao Culto, o Reverendo Marcos pontuou os pilares da Igreja Presbiteriana: o monoteísmo (só Deus deve ser adorado), a noção de Cristo como o único mediador entre Deus e os homens, e a aceitação do culto quando feito em espírito (“com todo o ser”) e em verdade (“segundo as Escrituras”). O culto presbiteriano não está submetido a um lugar fixo e deve ser regido pelos princípios que estão na Bíblia. “Segundo nossa doutrina, o que não é dito na Bíblia não se pode fazer”, observou o Reverendo. Dos sete dias da semana, um deve ser para o descanso, tido como “o dia do Senhor”. Os ministros da Igreja Presbiteriana não são considerados sacerdotes, e, sim, líderes e ministros dos cultos.
Na última parte da apresentação, o Reverendo tratou sobre o Governo. O presbiterianismo defende que Jesus é o chefe da Igreja, o sumo sacerdote, e que ele determinou a natureza governamental. Os presbiterianos acreditam que todos os membros da Igreja têm o direito de participar e os cristãos têm autonomia para exercer a livre associação. As igrejas presbiterianas são, administrativamente, independentes, embora estejam subordinadas, nos aspectos espiritual e doutrinário, às leis da religião. “Nós acreditamos que a Igreja possui o direito de disciplina”, destacou o Reverendo, sobre a noção moralizadora dos presbiterianos.
Em seguida, ele comentou a Assembleia de Westminster, realizada no século 17, na qual foram redigidos documentos para orientar o presbiterianismo. Desses escritos, destacam-se a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Menor de Westminster e o Catecismo Maior de Westminster, fundamentados nas Sagradas Escrituras e tidos como os “três símbolos da fé presbiteriana”. Por fim, o Reverendo detalhou a organização administrativa dos presbiterianos brasileiros. “O Conselho da Igreja realiza, no mínimo, uma reunião a cada três meses, e exerce jurisdição sobre a igreja local. O Presbitério é a reunião de quatro igrejas. Já o Sínodo lidera três ou mais presbitérios de uma região. Por fim, há o Supremo Concílio, a unidade maior da Igreja Presbiteriana do Brasil, que se reúne a cada quatro anos, e é formado por dois ministros e dois presbíteros de cada prebistério”, explicou.

Das 18h às 18h30, foi aberto um espaço para a realização de debate e a exposição de dúvidas e opiniões do público, sobre a doutrina do presbiterianismo.
O Fórum Inter-religioso promove encontros mensais, com o objetivo de esclarecer e discutir sobre as diversas crenças e religiões existentes no Brasil e no mundo. Confira a programação das próximas sessões:
13 de abril: Jurema Sagrada (grupo que cultiva tradição indígena em torno da poção feita com jurema, planta do Sertão brasileiro).
11 de maio: Cristãos da Igreja Congregacional
8 de junho: Pajelança dos índios da tribo Xucuru, do município de Pesqueira.
As informações sobre os eventos e discussões do Mestrado em Ciências da Religião da Unicap podem ser obtidas no site http://crunicap.blogspot.com . Os detalhes sobre o Fórum Interreligiosoestão disponíveis no site da equipe realizadora do projeto, o Grupo de Estudos sobre Trandisciplinaridade e Diálogo entre Culturas e Religiões. O endereço é www.unicap.br/observatorio.

terça-feira, março 10, 2009

AINDA SOBRE OS PROBLEMAS ÉTICOS E DISCIPLINA ECLESIÁSTICA ENVOLVENDO O ABORTO

Erramos em nossa última postagem, ao afirmar a posição da IPB quanto ao aborto. Com a finalidade de dirimir qualquer dúvida, apresentamos abaixo, o texto assinado pelo Rev. Roberto Brasileiro e que traduz a posição oficial da IPB quando ao assunto:

Quanto à prática do aborto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reconhece que muitos problemas são causados pela prática clandestina de abortos, causando a morte de muitas mulheres jovens e adultas. Todavia, entende que a legalização do aborto não solucionará o problema, pois o mesmo é causado basicamente pela falta de educação adequada na área sexual, a exploração do turismo sexual, a falta de controle da natalidade, a banalização da vida, a decadência dos valores morais e a desvalorização do casamento e da família. Visto que: (1) Deus é o Criador de todas as coisas e, como tal, somente Ele tem direito sobre as nossas vidas; (2) ao ser formado o ovo (novo ser), este já está com todos os caracteres de um ser humano e que existem diferenças marcantes entre a mulher e o feto; (3) os direitos da mulher não podem ser exercidos em detrimento dos direitos do novo ser; (4) o nascituro tem direitos assegurados pela Lei Civil brasileira e sua morte não irá corrigir os males já causados no estupro e nem solucionará a maternidade ilegítima. Por sua doutrina, regra de fé e prática, a Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a legalização do aborto, com exceção do aborto terapêutico, quando não houver outro meio de salvar a vida da gestante.

Em Cristo Jesus,

Rev. Marcos André Marques

sábado, março 07, 2009

PROBLEMAS ÉTICOS E DISCIPLINA ECLESIÁSTICA ENVOLVENDO O ABORTO

A notícia da interrupção da gravidez de uma menor de apenas nove anos de idade, teria passado quase despercebida pela sociedade brasileira, se a este fato não fosse acrescida a posição defendida pela Igreja Católica Apostólica Romana da excomunhão da mãe e dos médicos que cuidaram do fato.
Questões éticas à parte, pois isto envolveria uma longa discussão sobre um tema tão polêmico, como a questão do aborto, desejo tecer comentário sobre dois pontos adjacentes a esta questão.
O primeiro versa sobre o que faz uma sociedade protestar de forma tão veemente contra uma posição, que é tão clara ao longo do tempo? O Vaticano sempre se posicionou dessa forma quando o assunto foi aborto, nisto não há novidade alguma. Acho corajosa e coerente a posição de Dom Cardoso quando afirma que: “A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor”. Quantos de nós, pastores ou crentes teriam coragem de afirmar coisa semelhante, quando a posição defendida, vai de encontro com o desejo de uma sociedade?
Eu acredito que a sociedade não está realmente preocupada com a situação dos médicos e da mãe excomungada, porém, está preocupada em manter a sua pressão no sentido de que a ICAR reveja e mude a sua opinião e posição sobre o assunto liberação do aborto.
Não creio que está em voga, neste caso, um forte sentimento de tristeza e preocupação com a garota de nove anos, com sua mãe e médicos agora excomungados (embora haja exceções), antes estão preocupados em defender o aborto como uma prática libertina, que deve ser praticado por todas as mulheres em todo o mundo, pois só assim seus direitos de soberania sobre os seus próprios corpos seriam mantidos. Creio que a forte reação da sociedade não é um fato ético, mas traz no seu bojo, um grito pela liberação indiscriminada de tão horrenda prática pecaminosa.
Em suma, a sociedade, de forma geral, não está preocupada coisa nenhuma com os envolvidos em tão triste episódio. Estão sim, interessados em avançar em sua prática pecaminosa e em receber o aval de lícito por parte do governo e das autoridades. Pura hipocrisia!

O segundo ponto tem a ver com a questão da disciplina eclesiástica, como sendo uma das marcas da verdadeira igreja. Embora tenha que aceitar que a posição do Arcebispo de Recife e Olinda foi coerente com aquilo que determina a ICAR, não vejo na sua atitude, nenhum cumprimento de Mateus 18.15-20. Observe o que diz Jesus Cristo o Senhor da igreja, sobre a forma como se deve tratar a um irmão culpado: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”.
Ademais, nesta sua decisão não vemos a preocupação em preservar a honra de Cristo, a unidade da igreja, nem tampouco vemos a preocupação em restaurar o pecador, que continuará contumaz no erro, agora inflamado por uma atitude despautérica (perdoe o neologismo). A conotação dada pela atitude do Bispo no caso parece inferir que o pecado não aconteceu contra Deus, mas contra a “Santa Igreja”, o que torna o fato ainda mais lastimável.
Ao concluir este artigo quero reafirmar os valores bíblicos do cristianismo. Sou contrário ao aborto e esta, também, é a posição da IPB (com exceção da gravidez fruto de estupro e que ponha risco à vida da gestante. Estes dois fatos se somaram no caso da menina de nove anos em Recife, com o agravante de ter sido molestada pelo seu próprio padrasto de 23 anos).
Quero reafirmar a necessidade da disciplina eclesiástica, como marca da verdadeira igreja e que esta transcorra como descrita e prescrita no Evangelho de Mateus 18.15-20, visando:
1. Preservar a honra de Cristo;
2. Manter a unidade da Igreja;
3. Restaurar o pecador a comunhão com Deus.
Em Cristo Jesus,Rev. Marcos André Marques

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