(Mensagem proferida por ocasião do culto de Ano Novo na Igreja Presbiteriana de Lajedo)
Texto: Filipenses 3.12-16
Introdução
O ano esportivo brasileiro terminou da melhor forma possível.
O Brasil inteiro acompanhou pela televisão a edição da corrida de São Silvestre deste ano na qual os brasileiros ocuparam o pódio de forma brilhante.
Na parte feminina da corrida foi vencida pela brasileira Lucélia Peres e contou também com a segunda e terceira posição no grid final da corrida.
Por sua feita, a versão masculina foi vencida, também, por um brasileiro, o corredor Frank Caldeira venceu a corrida de 15 quilômetros em 44 minutos e 4 segundos, tendo, também, dois brasileiros na segunda e terceira posição.
Os corredores visavam um prêmio em dinheiro, destaque na mídia esportiva nacional e internacional e uma possível classificação para o Pan-Americano que será realizado em 2007 no Rio de Janeiro.
Elucidação
Filipenses é uma das cartas mais pessoais de Paulo.
Aqui ele compartilha suas próprias experiências com Cristo e a luta sobre o que seria preferível: morrer para estar com Cristo ou permanecer vivo para servir aos filipenses (1.2-26).
Paulo guardava os filipenses em seu coração, e eles o apoiavam em sua prisão (1.7), um fato que explica o tom de gratidão frequentemente usado por Paulo (1.3-11; 2.19-30; 4.10-20).
É parte central do pensamento de Paulo ao escrever esta epístola: 1) a sua presente situação (Fp 1); 2) o seu desejo de possuir a mente de Cristo (Fp 2); 3) o seu desejo de possuir o conhecimento de Cristo (Fp 3); e 4) o seu desejo de ter a paz de Cristo (Fp 4).
De importância central é o tema alegria. A palavra alegria (chara no grego) é encontrada 5 vezes e o verbo regozijar-se 11 vezes.
Na segunda metade desta epístola, a partir do capítulo 3, o apóstolo Paulo apresenta o seu grande desejo: alcançar o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo.
Neste contexto, proponho o seguinte texto para meditarmos nesta noite:
COM CRISTO EU CORRO PARA A PERFEIÇÃO
Em primeiro Lugar, destacando o Estado de Ânimo do corredor
Para ilustrar a corrida cristã rumo à perfeição, o apóstolo Paulo usa do simbolismo da corrida a pé.
Para que isto se tornasse mais claro para os irmãos daquela igreja, ele descreve com detalhes aquilo que era comum aos gregos, ou seja, a corrida grega, também chamada de corrida de estádio grego, onde o corredor deveria percorrer no menor tempo possível 185 m rasos.
O propósito da corrida era o de alcançar o alvo que ficava diante da entrada. Após estarem postados em posição para dar partida, esperavam o sinal, uma corda posta diante deles que uma vez solta, todos partiam em disparada rumo ao alvo.
O Dr. Hendriksen levanta uma questão, que segundo ele também permeava o pensamento do apóstolo: “Este competidor será bem sucedido?” E responde: “Dependerá do seu estado de ânimo”!
Observe que Paulo não se sente o melhor, ou o perfeito, muito pelo contrário, afirma sim que não julga haver alcançado a perfeição. O seu estado, portanto, é de alguém que sabe que necessita se esforçar para alcançar aquele alvo que lhe estava proposto. Ele não descansa na certeza do “já ganhou”, tão comum entre os esportistas brasileiros. Muito pelo contrário, ele sabe que tem que se esforçar.
Isto faz lembrar a fábula da lebre e da tartaruga.
Este não era o pensamento de Paulo, o que alavanca o seu estado de ânimo rumo a alcançar a perfeição que lhe estava proposta em Cristo Jesus, era exatamente o desejo de chegar lá.
Em segundo Lugar, destacando o Empenho do corredor
Se para ser bem sucedido numa corrida o atleta deveria vivenciar um bom estado de ânimo, fica claro que isto não é suficiente se não houver empenho por parte do corredor.
Paulo escreve: “porém uma coisa faço”. Um só e único objetivo ocupa continuamente o pensamento do corredor na pista de corrida: correr para o alvo, para ganhar o prêmio.
O corredor não pode permitir que algo o desvie de sua rota. Seu propósito é definido, muito bem definido.
Assim também foi com Paulo. Quando lemos sua epístola ficamos espantados com o propósito característico da vida do apóstolo após a sua conversão.
Paulo almejava ganhar a Cristo e a perfeição nEle, uma perfeição não somente de confiança continua, como também de afetuosa consagração.
Para que isto acontecesse era necessário que esquecesse das coisas que ficassem para trás. Dores, decepções, derrotas, tristezas deveriam ser esquecidas. Na figura do corredor que desejasse vencer e alcançar o seu alvo, teria que haver empenho para esquecer do passado, inclusive toda parte do percurso que o corredor já cobriu.
Um bom corredor não olha para trás, pois sabe que se assim o fizer perderá velocidade, a direção e, finalmente a própria corrida. Voltar à vista enquanto avança é por demais perigoso.
Na verdade ele tem que se preocupar e avançar para o que está diante de si (3.13d). Isto nos faz lembrar o próprio ensinamento de Jesus quando afirma que: “aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o trabalho”.
Em terceiro Lugar, destacando o Alvo a ser perseguido pelo corredor
Quando verificamos que para encontrar a perfeição em Cristo é necessário um bom estado de ânimo do corredor, além do seu empenho durante toda a corrida, é importante e uma condição sine qua nom, que o corredor persiga o alvo correto.
Paulo afirma: “Prossigo para o alvo”. Por alvo compreendemos ser aquilo que alguém fixa os seus olhos. Não se pode conceber a idéia de alguém que tendo um alvo a atingir fita seu olhar noutra direção. Caso isto ocorra o desastre, a derrota será inevitável.
De nada adiantará a velocidade do corredor se ele estiver perseguindo o alvo errado numa direção errada.
No caso dos atletas gregos durante a corrida, a visão daquela coluna no fim da pista encorajava o competidor a redobrar os seus esforços. Ele continuava a correr direto para o alvo, seguindo uma linha que ligava seus olhos ao alvo.
Na corrida espiritual o alvo é Cristo, segundo o Dr. Hendriksen, “a perfeição ético-espiritual nele. O apóstolo desejava de todo o seu coração, ser completamente libertado do pecado. Ele procurou ardentemente manifestar a glória de Deus, por todos os meios ao seu alcance, particularmente como um testemunho vivo a todos os homens”.
Em quarto e último lugar, destacando o Prêmio a ser recebido pelo corredor
Um corredor jamais esquece o prêmio, por isso Paulo continua a sua argumentação dizendo: “Para o galardão da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Ao final da corrida o vencedor comparecia diante do banco do juiz a fim de receber o seu prêmio. Este prêmio consistia de uma coroa de louros. 500 dracmas, cerca de 1,8 kg de prata. Além disso, o corredor que ganhasse uma corrida era dado a ele o direito de comer a vontade patrocinado pelo governo e também assentar-se na primeira fila dos teatros.
Segundo os comentaristas do NT, é bem provável que estes fatos estivessem relacionados ao pensamento de Paulo ao declarar que prosseguia para o alvo para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Contudo, a analogia não é absolutamente perfeita, pois se os atletas gregos corriam por um prêmio e coroa corruptível, o cristão corre por um prêmio e coroa incorruptível.
Embora em ambos os casos o prêmio seja entregue no final da prova, o prêmio da soberana vocação de que fala o apóstolo acontecera no momento da sua conversão, portanto, não somente no final da prova.
É aquilo que o Dr. Anthony Hoekema, lustre teólogo reformado, chama do já e do ainda não. Ou seja, já recebemos o prêmio da salvação, porém ainda não em sua plenitude, o que se dará com a volta de Cristo.
Por último gostaria de destacar a diferença entre alvo e prêmio? Em certo sentido são a mesma coisa. Ambos apontam para Cristo, a perfeição nele, contudo, alvo e prêmio representam diferentes aspectos da mesma perfeição.
A perfeição, ao ser chamada alvo, é considerada como o objeto do esforço humano. Ao ser chamada prêmio, é considerada como o dom da soberana graça de Deus.
Aplicação
Na nossa corrida com Cristo rumo à perfeição, como está o nosso estado de ânimo?
Na nossa corrida com Cristo rumo à perfeição, como está o nosso empenho?
Na nossa corrida com Cristo rumo à perfeição, como estamos olhando para o alvo?
Na nossa corrida com Cristo rumo à perfeição, temos buscado o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus?
Conclusão
Ao concluir nosso sermão de hoje, queremos fazê-lo em tom de desafio para todos aqueles que estão presentes.
Queremos desafiar a todos os irmãos a buscarem em Cristo a perfeição que nos está proposta e nos desafiando.
Para que possamos alcançá-lo é necessário que recobremos o nosso ânimo, nos empenhemos ao máximo na nossa caminhada cristã, olhemos firmemente para o alvo que nos está proposto: Jesus Cristo e que ao final, recebamos o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Que Ele nos abençoe neste novo ano!
Amém!
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