Ausência da verdade e a prática da justiça são conceitos mutuamente excludentes. Isso pode ser constatado na prática hodiernamente no contexto político, social e religioso em nosso país.
No campo político, tanto o executivo, quanto o legislativo têm sido alvo de denúncias de corrupção. Governantes eleitos pelo povo são acusados de levar de vantagens, através de negociações espúrias. Deputados, senadores e vereadores, também são alvos de denúncias de envolvimento em falcatruas em troca de benefícios e favores ao formularem leis injustas, que beneficiam uns poucos em detrimento da nação como um todo, especialmente dos menos favorecidos. O mesmo pode ser visto no campo jurídico, onde os juízes se utilizam de expedientes reprováveis e usam “dos favores da lei para os seus amigos e dos rigores da lei para os inimigos”.
No campo social não tem sido diferente. Os ricos estão cada vez mais ricos. Os mais pobres sofrem com as desigualdades advindas de leis injustas. Num mesmo ambiente, com extrema proximidade geográfica, convive o rico em suas mansões cada vez mais suntuosas e o pobre residindo nas favelas, em condições subumanas.
Quando o assunto envolve o campo religioso, a situação não é diferente. Tem-se vivido uma conjuntura na qual o número dos chamados “evangélicos” tem crescido, porém não através da sua boa influência na sociedade, especialmente, porque aqueles não têm vivido de conformidade com o que preceitua a Bíblia Sagrada, a única regra de fé e prática. Entre os católicos multiplicam-se as denúncias de pedofilia em todo o mundo, com suas ramificações dentro do clero brasileiro, numa clara mostra de que também estes não têm cumprido com os mandamentos ensinados pela Escritura Sagrada.
A situação descrita acima não diverge muito do período em que foram escritos os livros do Antigo e Novo Testamento. A sociedade vivia problemas muito parecidos com os vivenciados hoje. A confirmação dessa assertiva pode ser vista no livro do profeta Isaías, quando esse denuncia os erros da sua época, que envolvia a retirada do direito e da justiça, o tropeço da verdade e a proibição da entrada da retidão. Exortando aos seus patrícios que o Senhor via o que estava acontecendo e desaprovava toda falta de justiça, que é inclusive um dos atributos comunicáveis de Deus (cf. Is 59.14-15).
O mesmo profeta sentencia os que assim procediam, no capítulo cinco, à desgraça, quando lança sobre eles um lamento. Lastima o profeta, por aqueles que desprezavam a sabedoria de Deus e dos seus mandamentos, por se acharem sábios e prudentes, seguindo a regra dos seus próprios conceitos, que como sabemos é pequeno e enganoso. Para aqueles que faziam a verdade tropeçar e impediam a entrada da justiça ao aceitarem suborno, para justificar quem é perverso e ao mesmo tempo se negar a fazer justiça com o justo, declara, também, o seu lamento o profeta (cf. Is 5.21-23).
Suas queixas, porém, não param por aqui. O profeta ainda lamenta pelos que decretavam leis injustas, que visavam oprimir o povo, pois estas leis negavam justiça aos pobres, justamente para beneficiar aqueles que, buscando seus próprios interesses escusos, seqüestravam o direito do aflito, despojavam as viúvas e não satisfeitos subtraiam dos órfãos (cf. Is 10.1-2).
Situação semelhante enfrentou o profeta Habacuque, que viveu e profetizou pouco tempo depois do profeta Isaías. Ele exortou a Judá contra a frouxidão da Lei que tornava a justiça ausente, pois o perverso cercava o justo e torcia a justiça com práticas de iniqüidade e opressão. Exatamente como acontece nos dias de hoje, onde se pode ver que o princípio de Maquiavel continua sendo muito bem utilizado, ou seja, os fins justificam os meios.
Como se não bastassem a corrupção na política e na ética surge também, a corrupção espiritual. Assim como nos dias de hoje em que a famigerada e herética Teologia da Prosperidade tem invadido os arraiais de diversas denominações, através da pregação de um falso evangelho, nos tempos do profeta Jeremias o povo de Deus também experimentou a deturpação, entre os sacerdotes. O profeta denunciou uma parceria esdrúxula entre profetas e sacerdotes, que escondiam a verdade e profetizaram falsidade, com o endosso dos sacerdotes (cf. Jr 5.30-31).
O profeta Miquéias já havia denunciado anos antes, não só ao reino do norte (Israel), quanto ao reino do sul (Judá), a injustiça que estava sendo praticada, quando adverte aos cabeças, chefes de Israel, que haviam pervertido o direito dos menos favorecidos edificando a Sião e Jerusalém com sangue e perversidade. A denúncia alcança repercussão assustadora, quando o profeta acusa os cabeças de subornarem a sacerdotes e profetas, para que, respectivamente, ensinassem ao povo segundo seus próprios interesses e que profetizassem por dinheiro. A cegueira espiritual havia chegado a um estágio tal que, nas suas mentes cauterizadas, ainda ousavam dizer que o Senhor estava no meio deles e que por isso, mal algum lhes sobreviria (cf. Mq 3.9-11).
Diante de tais fatos narrados pela Escritura Sagrada, a inerrante e verdadeira palavra de Deus e da atual situação vivenciada em nosso país, não há como negar que ao se eclipsar a verdade, ou ao menos torná-la menos nítida e nebulosa a justiça não se estabelecerá, pois ambas, isto é, a verdade e a justiça são companheiras inseparáveis. Daí o fato de dias tão difíceis, nos quais os homens se distanciam, cada vez mais, da verdade de Deus revelada nas Escrituras Sagradas e igualmente não experimentam uma vida de correta justiça, quer seja no ponto de vista político, ético ou espiritual.
Em Cristo,
Rev. Marcos André Marques
Nenhum comentário:
Postar um comentário