Crônica escrita pelo Rev. Jaed Vasconcelos e que eu a publico na íntegra.
Em uma sexta-feira normal, sol claro, a cidade amanheceu sem nada de anormal, as pessoas passavam pelas ruas fazendo suas compras, os estudantes com livros nas mãos atravessavam as ruas sorridentes, continuavam em direção às escolas, carros transitavam de forma calma e ordeira. Em poucos instantes celulares e e-mails são acionados com uma notícia “Palmares e Catende estão se acabando em água” e a vida continuou como antes, as pessoas comentavam que seria uma enchente corriqueira nos rios Una e Carimã, comerciantes e ribeirinhos assustados começaram a desmontar lojas e móveis vagarosamente não acreditando nas notícias, o locutor da rádio local pedia ao povo para não entrar em pânico, pois nada de tão anormal poderia acontecer que não tivesse ocorrido em outros tempos.
Na madrugada de sábado, toda a parte baixa da cidade entra em pânico, as águas começam a subir, mudanças e carros velozes transformam a cidade em um enxame desordenado e gritos soavam dizendo: “Vai ser como a de 2000” e nos preparamos para o pior.
No pátio da feira, barracas montadas, lojas fechadas, outras abertas e alguns se riam dos apressados e crédulos, pastores e padres tentavam alertar suas ovelhas que desacreditavam em seus sacerdotes. Nada mais havia para fazer senão esperar, esperar e esperar.
Naquele sábado 19 do mês das festas de São João, os rios que cortam a Cidade dos Barreiros subiam com fúria catastrófica, móveis, colchões, carros, bicicletas enchiam as ladeiras, homens e mulheres exaustos com lágrimas escorrendo pelo rostos tentavam pela segunda ou terceira vez arrastar o que sobrara dos anos de trabalho e fadiga. Os telhados começavam a sucumbir nas águas barrentas, pessoas nos telhados gritavam pedindo socorro com uma canção de terror que ficara gravada nos ouvidos que ainda por muitos dias ouvirão, o clamor do medo e desespero. Sofás, camas, geladeiras, colchões, botijões e animais passavam na correnteza dando o seu adeus.
As águas continuavam a subir até altas horas, quando estacionou e começou a regressar, agora famílias nos montes, ladeiras e casas de amigos e parentes se arrumavam para passar os dias, enquanto se ouvia o barulho abafado pelas águas de casas desabando. Naquele momento as pessoas tentavam adivinhar de quem era. O desespero dava lugar à preocupação e ansiedade, e finalmente alguns vencidos pelo cansaço foram dominados pelo sono.
O sol nascente na manhã do Dia do Senhor, revelavam a diminuição das águas tempestuosas e com ela lama e lixo cobriam a cidade. Ao passar pelas ruas, ao invés de ouvir um alegre “Bom Dia! Pastor...” uma tristeza profunda nos olhares, lábios cerrados e uma inclinação lamentavam a existência daquele dia 20. Somente quatro dias depois ouvi alguém dizer “Bom Dia! Pastor”
Rev. Jaed Vasconcelos Gomes
Pastor Presbiteriano
Barreiros –PE, 28/06/2010
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